Gesto simbólico cobrando justiça e responsabilização foi realizado na Exposibram 2024, em Belo Horizonte. No rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, da Vale, em 2019, 272 pessoas morreram e até hoje, mais de 5 anos após a tragédia-crime, ninguém foi julgado
Familiares de vítimas erguendo a bandeira com o nome 'Brumadinho' na abertura da Exposibram 2024, em Belo Horizonte. Foto: AVABRUM
Porto Velho, RO - Uma bandeira de 5 metros de comprimento com o nome “Brumadinho” estampado, erguida por familiares das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em 2019, marcou com emoção e indignação ontem a abertura da Exposibram 2024, a maior feira de mineração da América Latina.
Num auditório lotado com mais de mil pessoas, a manifestação chamou a atenção para a luta travada pelos familiares há mais de cinco anos por justiça e responsabilização criminal pelas 272 mortes que resultaram da avalanche de lama da Mina Córrego do Feijão.
Realizada em Belo Horizonte (MG), a Exposibram vai até o dia 12 com a AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho) presente em um estande. No espaço, mães, filhas, irmãs e esposas de vítimas da tragédia estão recebendo o público para contar a história da tragédia e das vítimas, e os desafios da associação na busca por justiça, não esquecimento e não repetição do crime.
Entre os principais desafios, a celeridade do processo penal na Justiça Federal, que caminha a passos lentos, é um dos mais importantes. Na ação, foram denunciados por crimes de homicídio e ambientais 16 réus e duas empresas (Vale, dona da barragem, e Tüv Süd, que emitiu o laudo falso de segurança da estrutura).
‘Nós não esqueceremos Brumadinho’
Josiane Melo, diretora da AVABRUM e irmã da vítima Eliane de Oliveira Melo, de 39 anos, que morreu grávida de 5 meses de Maria Elisa, afirmou que o protesto com a bandeira simboliza a persistência dos familiares em manter viva a memória dos entes queridos e cobrar justiça.
“Nós, familiares, não deixaremos que o mundo esqueça Brumadinho. Estamos aqui para lembrar a todos, inclusive às autoridades e às empresas presentes nesta feira, que as 272 vidas ceifadas exigem justiça e respeito. Não podemos seguir adiante sem punição e sem mudanças no setor para que isso nunca mais aconteça”, disse.
‘A vida humana não pode ser descartada pelo lucro’
O estande da AVABRUM na Exposibram traz uma exposição com fotos, vídeos, livros e cartazes que contam a história das vítimas e a luta dos familiares por justiça. No espaço também há flyers informativos sobre a tragédia-crime e o trâmite lento do processo judicial.
Além de destacar a impunidade, os familiares que estão recebendo o público no local também reforçam a necessidade da adoção de medidas preventivas mais rigorosas no setor de mineração.
“Estamos exigindo mudanças reais no setor para que crimes como o que aconteceu em Brumadinho nunca mais ocorram. A vida humana não pode ser descartada em nome do lucro”, disse Alexandra Andrade, que perdeu o irmão, Sandro Andrade Gonçalves, e o primo, Marlon Rodrigues Gonçalves, na tragédia-crime da Vale em Brumadinho.
Contexto atual e retomada da ação penal
Mesmo com investigações detalhadas e provas reunidas por diversas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e pelas Polícias Civil e Federal, o processo criminal está paralisado.
Em março de 2024, o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) concedeu habeas corpus ao ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, antes mesmo do início do julgamento. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também ampliou os prazos de defesa de engenheiros da Tüv Süd, responsável pela segurança da barragem, estendendo a medida a todos os réus.
Atualmente, os familiares aguardam o cumprimento de uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), do dia 3 de setembro, para que os réus façam suas defesas em 30 dias, o que permitirá a retomada do trâmite em outubro.
Serviço:
Exposibram 2024
Data: 9 a 12 de setembro de 2024
Local: Expominas – Av. Amazonas, 6200 – Gameleira, Belo Horizonte – MG
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